sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Receita de Ano Novo



Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

E nós?


A educação será um dia a prioridade do Brasil? Fala-se muito que o único caminho para o progresso é a educação, e eu concordo. Mas é aí que está o problema. Será que queremos mesmo o tão sonhado progresso? Acho que não.

Nós não nos preocupamos com a educação brasileira quando depositamos nos professores toda a responsabilidade de educar nossas crianças, quando deixamos de frequentar a escola, quando deixamos de comparecer às reuniões de pais, quando não buscamos saber quem são os professores de determinada escola, qual a formação deles, quando não fiscalizamos as medidas que o poder público toma em relação à educação, quando..., quando..., quando terceirizamos nossa responsabilidade como cidadãos.

O voto não é uma transferência de obrigações. Não! A obrigação da educação também não pode ser transferida. Uma das minhas críticas aos governos do PT sempre foi a falta de investimento na educação básica. Glorioso o que foi feito no ensino superior! Milhares e milhares de famílias tiveram a oportunidade de ver um de seus membros formado. A primeira bióloga! O primeiro advogado! O primeiro engenheiro! Mas não há PNE que se cumpra sem a devida atenção às séries iniciais. Responsabilidade da esfera municipal? Na grande maioria dos casos, sim. Mas o governo federal não fiscalizou... e nós não cobramos.

A responsabilidade precisa ser assumida. A nossa responsabilidade precisa ser assumida! Julgar os alunos que ocupam as escolas é uma tarefa bem fácil! Nós gostamos das tarefas fáceis. Desde o tempo em que éramos nós os alunos. Há baderneiros entre eles? Há! Há sim! Mas não duvidemos da intenção, da boa intenção dos alunos. Eles possuem ideais! Talvez seja essa a única forma da educação brasileira ser ouvida. Nós não conseguimos muitos avanços olhando de longe, do sofá. Eles estão tentando! Eles lutam! Eles... lutam! Nós estamos do lado de cá, apenas observando... lavando as mãos!

Reformas são necessárias? Claro que sim! Mas elas precisam ser discutidas! Discutidas por todos nós! Deveríamos sair de casa e ocupar as escolas também! Conversar, discordar, propor... Eles são jovens e precisam de suporte. Erram, se equivocam, colocam os pés pelas mãos, mas estão lá! Estão lá esperando, inclusive, a nossa ajuda. E nós, que até então éramos Pilatos, passamos a ser Pedro. Nós não nos preocupamos com a educação no Brasil... Nós fingimos apenas!

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Eu sonho!



O sonho se tornou meu refúgio
desde que o destino nos tirou o convívio diário.
Era nele que eu te abraçava
quando a saudade apertava,
quando a falta doía.
Acordar significava tristeza
e eu tentava, muitas vezes sem sucesso,
recuperar o devaneio e novamente te encontrar.
Hoje, esse mesmo sonho traz angústia.
Cada vez que nele nos encontramos,
paira sobre mim uma dúvida:
seria este sonho um sinal?
E então o medo toma conta de mim.
Voltar a sonhar não é mais um desejo.
A luta contra o repouso se faz necessária,
e eu troco o sonho pelo meu pensamento.
Este eu ainda posso controlar...
Não sei se nesta noite nos encontraremos.
Não sei se quero.
Não! Não quero!
Ou quero... Quero!
Verei o sonho como uma criança travessa!
Uma criança que faz pirraça,
mas enche o mundo de paz ao sorrir.
Será o sonho meu amigo mais fiel,
e não me importarei com suas brincadeiras tolas.
Será o sonho que nos colocará em comunhão
quando a vida nos separar de vez.
Será o sonho que me aconchegará em teus braços,
que me permitirá beijar a sua tez,
que escolherá a nossa canção.
É com esse sonho... que eu sonho!


Bruna Lugatti

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O que é - simpatia





Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.


Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.


São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.


Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...

- Simpatia - é quase amor!

Casimiro de Abreu




segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O melhor de mim...


Eu amo a chuva! Amo! Parece que nos dias de chuva eu encontro paz. Encontro a minha paz! Sinto que tudo o que de mais belo que existe em mim aflora com as águas que caem do céu. Meu despertar mais alegre, meu sorriso mais bonito, meu 'bom dia' mais amável... Tudo faz sentido num dia onde a bruma se faz presente. 

Penso que, como um flor, que necessita da água para lavar suas pétalas e lhe dar mais vida, também eu preciso de água para me livrar de coisas que eu não preciso guardar. Águas que venham formar um amálgama com minhas lágrimas e me livrar do pesado fardo do disfarce. 


Águas suaves que venham beijar meus lábios e levar embora o sabor salgado da tristeza que teima em externar. E, então, eu sinto uma vontade quase indomável de correr pela chuva, dançar, pular e deixar que passeie pelo meu corpo a felicidade líquida que encontrei. 


Mas acabo me contentando com a minha janela, com o cheiro da chuva... E o que pode parecer pouco, na verdade, é muito! Adormecer se torna mais fácil e - que ironia! - acordar com um pouco de Sol no dia seguinte já não seria o pior dos castigos, mas que bom seria poder sorrir meu sorriso mais bonito e dar meu 'bom dia' mais amável...





quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Vamos seguir... com cautela!





Me espanta a velocidade com que deixamos de desgostar das coisas, das pessoas. Vamos atropelando relações, deixando situações mal resolvidas porque a oferta é muito grande. E a demanda também...

Sempre fui uma amante do poder que a internet tem de reunir pessoas que, provavelmente, jamais se cruzariam. Por volta de 2009, 2010 deixei minha tia louca ao conhecer pessoalmente um catatau de pessoas que a internet me 'apresentou'. Lembro que despenquei até São Paulo para encontrar um grupo que comungava da mesma estima que eu por uma série. 'Uma insanidade!',pensou minha tia. E eu simplesmente amando romper as barreiras geográficas para conhecer essa gente toda! 

Mas, como tudo na vida, com o bônus vem também o ônus. Essa gama de 'amigos' muitas vezes torna as relações mais superficiais, passageiras. A possibilidade de encontrar pessoas com gostos semelhantes é muito grande e você pode, facilmente, com um simples clique, excluir as pessoas da sua vida. Eu mesma faço minhas faxinas de vez em sempre. 

Amamos e desamamos na mesma velocidade do nosso provedor. Está certo isso? Não me parece. Tem alguma coisa errada nessas relações. Eu supunha que o problema estivesse fadado ao virtual somente, mas, com o tempo e a experiência,  fui percebendo que, por nossa vida hoje estar tão entrelaçado ao virtual, transferimos esse erro ao mundo 'real' também. Nossa vida, muitas vezes, tem como tema o belo livro 'Amor líquido', do Zygmunt Bauman. 

Será mesmo que nada é pra durar? 




Eu não saberia e nem poderia afirmar, por exemplo, se a internet é a grande culpada por nossas relações se tornarem tão líquidas. A televisão foi a grande vilã por um determinado tempo, é bem verdade. Mas eu sinto que a quantidade de pessoas faz com que nosso problema se torne maior. Meu incômodo passa pela superficialidade das muitas relações que temos. Mas, talvez, seja um incômodo somente pra mim. Talvez esse mundo corrido, tomado de pessoas carentes e necessitadas de exposição e aceitação seja normal pra muita gente, pra maioria. 

Talvez esse amor passageiro seja o combustível do mundo atual. Mesmo...




Sim, eu economizo 'eu te amo' e todo mundo sabe. O que nem todo mundo sabe, é claro, é que deixei de falar alguns, omiti. Mas o que eu sei é que todos que eu falei foram sinceros. Todos merecidos e bem direcionados. Mesmo que tenham sido jogados ao vento...





Sinto-me ainda perdida nesse mundo que 'ama' uma pessoa e um poste com a mesma intensidade. Mesmo! Esse mundo que não se preocupa com o que palavras e ações podem causar no outro ainda me estarrece, me entristece. Esse mundo que só digita, e que muitas vezes digita coisas que são mal interpretadas, precisa de mais abraço, perdão, conversa, encontros...




As pessoas não vão mudar só porque eu quero. Eu é que preciso mudar. Mas não mudar para me tornar como elas, preciso mudar para saber lidar com elas. Esse é meu grande desafio, e creio que seja o de todo mundo que sente o que eu sinto. Mas a certeza de que qualquer relação vale a pena faz a gente continuar, mesmo que o sofrimento dê as caras de vez em quando. Os errados não somos nós, são eles!... ou não! É, não temos como saber. Vamos cultivar o que deu certo e esquecer, mesmo lamentando, o que deu errado. Mas vamos seguir... com cautela! 
















terça-feira, 9 de junho de 2015

Menos encheção de saco, mais preguiça



Eu sou cristã. Sou católica apostólica romana. Mas acho que nunca sofri preconceito por causa disso. Deve ser porque nunca quis impor minha fé. Nunca a empurrei goela abaixo de ninguém. Isso se deve ao fato de eu não achar a minha religião melhor do que qualquer outra, e nem ficar por aí gritando aos quatro ventos seus dogmas e ideais.
Sou até demasiadamente passiva quando leio ataques às minhas crenças, mas acho que encontrei nessa passividade a paz que eu precisava. Algumas guerras não valem a pena, não valem meu suor. Algumas pessoas não merecem meu tempo.
Conheço pessoas que são como eu, e, preciso dizer, elas são legais pra caramba! Elas não enchem a minha timeline de lutas, elas vivem a luta. Elas não me azucrinam com frases feitas ou guerras antigas e batidas.
Gosto de gente que ama o diferente, o semelhante. Não gosto de gente que diz que ama o diferente, o semelhante. Meus amigos negros não precisam que eu poste diariamente que eu não sou racista. Eles sabem que eu não sou. Meus amigos gays sabem perfeitamente que pra mim pouco importa se eles namoram homens ou mulheres.
Vivemos tempos difíceis. As redes sociais se tornaram uma vitrine de ética e boas maneiras. Fala-se muito, faz-se pouco. As pessoas compartilham, compartilham e compartilham e os '‪#‎SomosTodosMacacos‬' da vida se tornam verdades indiscutíveis.
Todos sabem de tudo, todos conversam sobre tudo. Quase tenho inveja disso, porque eu realmente não tenho conhecimento sobre todos os assuntos. Uma pena. Ou não...
Eu só queria que aqui fosse um lugar de distração, porque na missão social nós falhamos, exageramos, passamos do ponto. Ficou chato. Está chato demais! Erramos na mão, vamos assumir.
Melhor dar um tempo disso aqui. Vamos postar menos e fazer mais. Ah! Vamos fazer, mas fazer sem postar. Vamos lutar juntos, mas no corpo a corpo, nada teclado. Bora amar os 'diferentes', se é que eles são realmente 'diferentes'. Não pra mim, mas...Acho que eles precisam mais disso do que uma publicação com um texto bonito. Bora deixar esse espaço aqui pras zoeiras que never ends.

Menos texto, mais ação. 
Menos encheção de saco, mais preguiça...